Comentem!!! :)
É Natal!
Podemos afirmar isso só de olhar para as montras decoradas
com pinheiros de Natal, fitas, bolinhas e luzinhas coloridas a piscar em todo o
lado. Como se não bastasse, este ano está a nevar.
No Porto raramente neva no Inverno mas este ano, só para
deixar as coisas mais melodramáticas do que já são, neva.
Toda a gente adora o Natal e eu até consigo perceber porquê,
quer dizer, receber prendas, juntar a família e montar toda a decoração de
Natal parece realmente ótimo e super divertido. Para quem tem uma família.
Eu nunca tive um Natal assim, pelo menos que me lembre. Eu e
a minha irmã vivemos com a nossa mãe, não conhecemos mais ninguém da nossa
família, nem se quer de fotografias. Quando tinha vinte anos, a minha mãe fugiu
connosco de França e consequentemente de toda a nossa família. Eu tinha quatro anos
e a minha irmã dois quando isso aconteceu, desde então já se tinham passado quatorze
anos.
Esta é uma das razões de porque eu odeio o Natal, ao longo
dos anos muitas outras razões foram aparecendo. Por exemplo, o facto de a minha
mãe estar sempre bêbada no Natal (ou em qualquer outra ocasião) é também uma
razão.
Apesar disso todos os anos, a minha irmã, Mimi, faz questão
de elaborar uma grande festa com tudo o que temos direito: árvore de Natal,
rabanadas, bacalhau, bolo-rei, pão-de-ló…
Eu consigo percebe-la. Ela não consegue aceitar que nos não
somos uma família normal, ela necessita urgentemente de uma família normal. E
isto é o que mais me doí, o facto de a minha irmã não conseguir ultrapassar o
que se passou à já quatorze anos.
Suponho que fosse mais fácil de ultrapassar o que se passou
se, ao menos, soubéssemos que realmente se passou. A única coisa que eu e a minha
irmã sabemos é o que a nossa mãe nos contou quando eu tinha mais ou menos 10
anos. Ela contou-nos que o nosso pai tinha uma amante e que ela só conseguia
pensar num solução, fugir, disse também que era por isso que bebia tanto.
Sinceramente não parece muito verdadeiro para mim, essa não é a imagem que eu
tenho do meu pai. Lembro de pensar que ele era o melhor pai do mundo, ele
viajava muito mas sempre trazia brinquedos para mim e para a minha irmã.
Lembro-me também que os meus pais passavam a vida a discutir mas não consigo
acreditar que o meu pai fosse capaz de trair a minha mãe. Mas depois lembro-me
que nestes quatorze anos ele nunca sequer tentou encontrar-nos, quer dizer, se
realmente gostava assim tanto de nós deveria ao menos tentar encontrar-nos.
Os dois primeiros
anos que passamos em Portugal ficamos a maior parte do tempo em casa de
uma vizinhas que tinham pena da minha mãe. A minha mãe não teve grandes problemas
de adaptação, vem de uma família que emigrou para França e que atualmente se
encontrava muito bem de finanças, então alem de falar muito bem a língua,
conhecia muito bem o país pois tinha cá vindo muitas vezes passar férias com a
família. Assim sendo, arranjou facilmente emprego, o problema é que mais cedo
ou mais tarde os patrões percebiam que ela andava bêbeda em serviço. Durante
este tempo, eu tinha esperanças que o meu pai me viesse buscar, em realidade, fazia
planos para quando ele me viesse buscar. Finalmente convenci-me que ele nunca
viria, então deixamos de ir para casa das vizinhas e comecei a ser eu a tomar
conta da minha irmã de cinco anos enquanto eu tinha sete. Também já tinha percebido que a minha mãe
não era uma mãe normal por isso tentava manter-nos, a mim e à minha irmã, o
mais longe possível dela.
Atualmente tenho dezoito anos e muito pouca coisa mudou na minha
vida, a não ser a carta que tinha escondida no meu bolso. Estava dirigida à
minha mãe mas ela andava tão bêbeda que tenho a certeza que nunca desconfiaria. A
carta vinha de França e estava assinada com Pierre, esse é o nome do meu pai, e
esta foi a razão de ter ficado com a carta pois, apesar de já se terem passado
quatorze anos, aquela esperança que tinha em criança ainda se encontra viva dentro de
mim, mesmo com tudo que fiz para a matar.
Ainda não contei nada à minha irmã, pois esta, mais do que
eu, tem esperança que um dia o pai a venha resgatar desta vida difícil. Não
quero direciona-la se em realidade não for algo de bom.
Hoje é dia 20 de Dezembro, faltam cinco dias para o Natal, e
encontro abro a carta espero que algum milagre de Natal acontece e que esta
carta seja algo que possa sustentar as nossas esperanças.
“ Ola Isabel,
Sei que não nos falamos à muito tempo mas na última carta
que te enviei há treze anos, quando finalmente te encontrei, avisei-te que
voltaríamos a falar sobre as nossas filhas. Agora que Marie é já maior de idade
vou a Portugal, preciso de conhece-la e à Mimi também mas sei que não me vais
deixar aproximar dela até que ela seja legalmente maior de idade e tu não
possas fazer nada contra.
Estarei em Portugal no dia 20 de Dezembro. Não te incomodes
em fugir, desde que descobri onde te encontravas que tenho um detetive a
enviar-me relatórios sobre as minhas filhas. Saberei onde estás fujam para onde
fugirem.
Espero que avises Marie sobre a minha chegada, se não ela
vai saber da minha presença de qualquer maneira, só preferia que não fosse um
choque para ela.
Até breve,
Pierre.”
Lágrimas escorriam pela minha cara a baixo quando terminei a
leitura desta carta. O meu pai sempre quis saber de nós, sempre nos amou, este
era o único pensamento que permanecia na minha cabeça.
Neste momento, a campainha tocou.
Até a próxima parte!!!
- Katra
- Katra
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